domingo, 2 de fevereiro de 2014


MRS DALLOWAY 

VIRGINIA WOOLF 



   Como dizer sobre o que se trata o romance de virginia woolf? Como resumir, definir ou descrevê-lo sem ficar com a sensação do inacabado, do complexo, inatingível, daquele sentimento que é demasiadamente perplexo e grande para se conter em palavras, ou em meras definições? O que posso fazer aqui é degustá-lo, é rememoria-lo em todos os meus sentidos, é me permitir algumas palavras sobre alguns entre inúmeros sentimentos que me perpassaram . 
   A mim, cabe pensar em clarissa, protagonista e condutora dos fios que ligam e entrecruzam o romance, no fim ou início de sua vida, sentindo-se maravilhada pelo interromper, a mim cabe vislumbrar clarice se permitindo caminhar em um sentido oposto do que se caminhou, nem que seja para olhar com satisfação e convicção para o caminho que escolheu na juventude e esteve presente durante anos de sua vida, realizando jantares e comprando flores. 
   O mais impressionante do livro, é que se passa em um único dia em na cidade de Londres, e nada além do habitual acontece, somente a ida de clarice comprar flores para decorar a festa que irá oferecer a noite, um ação corriqueira e habitual, porém, a autora nos coloca no submerso dos sentimentos, das memórias e do psicológico de cada personagem, a ponto de torná-los íntimos de nós, a ponto de me fazer sentir como se tivesse participado da vida de clarice dallooway como um parente, uma amiga, ou um simples vizinho cúmplice e observador.
     Histórias se entrecruzam e se contagiam, personagens são costurados um nos outros em sentimentos sem ao menos se conhecerem, são atingidos, são igualados a uma mesma atmosfera de nostalgia e pavor, sentires diversos, sentires absurdos, sentires que nortearam o fim daquele dia e quem sabe, o início da vida daqueles que estiverem a deriva dos seus sonhos, das suas indagações e fantasias. 
   A história dos personagens se embaralham, cruzam, acontecem simultaneamente. Septimus passa por clarice acometido pelas dores da guerra, pela loucura sana de ver um outro ser levado da vida abruptamente, clarice contempla septimus e pensa em seu passado, no que viveu e tragicamente no que não viveu. Peter walsh, relembra seu amor, sua paixão e embaralha-se com os sentimentos sobre a realidade que não viveu, e com os anseios de clarice, e assim, somos envolvidos pelas lembranças, realidades, sentimentos, e memórias daqueles que presenciaram o mesmo dia conectados por um passado que não pode jamais se desconectar, um passado que sacramentou-os em um único corpo.
  A escritora nos apresenta londres através da sua literatura moderna, e nos apresenta meticulosamente as camadas e subcamadas do psicológico dos personagens, e fico aqui em êxtase, entre as emoções, os pensamentos e as memórias daqueles que há poucos dias atrás me eram desconhecidos, e hoje posso senti-los e compreendê-los como não pude por muitos não fictícios e indecifráveis que convivo e conheço por anos, e precisaria do olhar de lupa de virginia woolf para apresenta-los distante da superficialidade com que rotineiramente são vistos, sentidos e ignorados. 

               

                    JORDANA SEIXAS 


“inspirada , inicialmente por dostoiévski, flaubert, proust, esteve preocupada em captar os recônditos da mente, os labirintos da memória, as hesitações e as incertezas, as contradições e as fraquezas da natureza humana, bem como a forma pela qual o tempo tal como percebido e sentido pela mente humana difere, de maneira fundamental, do tempo medido pelo relógio e pelo calendário. O que importa para ela como escritora de ficção não são os aspectos óbvios da vida, como os atos e as palavras, quanto os sentimentos e as lembranças, que tendem a ser confusos, desordenados, contraditórios, ilógicos. ” 

                       Tomaz tadeu 

 “Os romancistas reproduzem as aparências externas ( maneirismos, paisagem, roupas e o efeito dos heróis sobre os amigos ), mas muito raramente, e apenas por um instante, penetram no tumulto de pensamento que assola a sua mente.” 

                                                              Virginia woolf

sábado, 22 de junho de 2013

Sobre as Manifestações no Brasil



   100% dos recursos do petróleo para educação?...tola talvez, mas aguardarei ansiosamente, porque se tornar-me incrédula da salvação do alicerce e esqueleto da formação de nossa sociedade, como posso crer em qualquer outra coisa posterior a isso? Quanto as médicos estrangeiros, com todo respeito, creio que a solução para o Brasil não esteja fora dele, pelo contrário, está exatamente aqui, nos líderes que estão "desgovernando" nosso País. Elite é o que vem de fora, os importados? não podemos investir na educação e formarmos médicos qualificados de elite? é um luxo isso? Eu sou professora de rede pública e quero acreditar que meus alunos serão os nossos futuros médicos SRA. Presidenta Dilma Roussef! E quero a garantia de que quando formados, exercendo a profissão e fazendo a diferença, eles se sintam felizes pela escolha que fizeram, e não frustrados como muito de nossos profissionais, não questionando a sua importância, porque isso é irrevogavelmente  inquestionável, mas frustrados  pelo descaso como são encarados médicos e educadores e suas respectivas áreas na nossa sociedade, e não estou falando aqui de prestígios, mas do básico, do necessário.
   Mas 2013 é o ano, porque a coisa mais linda do mundo aconteceu, e não foi a redução dos vinte centavos na passagem, mas os brasileiros desligaram a televisão, ou a deixaram ligada, porém com o distanciamento Brechtiano, como aquele que a tudo estranha e desconfia. Deixaram suas vidas individuais de lado e se uniram por um só ideal, por um desejo coletivo. De luxo? Não! Desejo de justiça! Juntos somos mais fortes, juntos somos o gigante que acordou e decidiu brigar e questionar pelos nossos direitos. 
   Percebo que a internet, o facebook, entre outros, tem iniciado uma bela revolução nas massas, retirou da mídia e dos "soberanos" o poder de comunicação, de persuasão, de manipulação, todos são emissores e receptores de pensamentos, de notícias, e todos livres a questionar e partilhar as ideias, e eu fico maravilhada com isso, digam bobagem ou não, concordem ou não, mas todos livres e ativos, e eu contemplo toda forma de liberdade e estranhamento! Eu não sei se essas manifestações terão de fato um reflexo positivo na nossa sociedade diante das nossas reivindicações, mas entramos sim para a história porque estamos compondo a nossa história, nos permitindo ser autores daquilo que em nós estava oprimido, camuflado e até desconhecido por nós mesmos, saímos da passividade e fomos pra rua...e agora estamos nos reintegrando e tomando posse do que nos pertence! 
   É a primeira vez na vida, que me sinto orgulhosa de ser e viver no Brasil, com toda falcatrua e descaso com as áreas que mereciam ter uma papel de destaque na sociedade como educação e saúde, sinto-me em paz, pela beleza e força da união dos "meus", e agora sim me sinto representada, pelo povo… Quanto aos atos de destruição e violência entre as manifestações, nada a falar, porque ai é outra discussão, é o retrato agressivo de uma política marginal! 

Jordana Seixas



quarta-feira, 20 de março de 2013




Sobre o Livro O Diário de Anne frank


    Relendo o livro, o diário de Anne Frank, pela 3° vez, depois de finalmente ter conhecido seu esconderijo na Holanda, em Amsterdam, foi como lê-lo pela primeira vez, acho que ela, uma menina judia de 13 anos que precisou se esconder e comer batatas podres para sobreviver, foi a melhor pessoa deste mundo a descrever e falar de Deus, com o sentimento mais puro e as palavras mais genuínas.
     Meu pensamento vaga e transita pelos cômodos que já me são íntimos no anexo, o sótão, as escadas, a estante, os feixes de luz nas janelas...quero continuar a ouvir a voz de Anne ao ler suas palavras, porque já construí sensorialmente seu timbre de voz, sua intensidade, e até mesmo sua maneira de falar, gesticular e olhar.  Quero continuar a partilhar sua história, seus sentimentos, quero vê-la saltitante, quero conhecer aonde aquele espírito livre pode ir armada de liberdade, como pode ser mais livre do que já é, mesmo estando fisicamente aprisionada.
    E o 1° beijo? E a ruptura romântica de suas virgindades?

    Finalizando a releitura do livro, sinto-me órfã da extensão de uma vida interrompida, órfã dos sonhos de Anne que sonhei lendo cada suspiro seu audacioso, órfã dos livros posteriores que não puder ler, porque ela não pode escrever...
    Bruscamente, logo após Anne aspirar esperançosamente usufruir da natureza com liberdade e se tornar uma possível futura jornalista ou escritora, precisamos substituir os sonhos desta menina de 15 anos, e que ao acompanhar seu dia-a-dia no anexo secreto, tornam-se instintivamente nossos sonhos, pela dura realidade estilhaçada nos campos de concentração.
    A realidade que precisamos engolir é a da epidemia de tifo, dos bombardeios ou dos corpos estirados pelas valas? Definitivamente NÃO! A realidade que precisamos engolir e substituir pelos sonhos de Anne é a pior de todas que já existiu, a imundice humana, a hipocrisia dos "Hitlers" que existiram, e não deixam de existir...



Jordana Seixas

“Espiei pela janela aberta, deixando o olhar percorrer boa parte de Amsterdã. Sobre os telhados e em direção ao horizonte, havia uma tira de azul tão claro que era quase invisível.
Como posso me sentir triste enquanto isso existir, pensei, esta luz e este céu sem nuvens, e enquanto eu puder desfrutar essas coisas?
O melhor remédio para os amedrontados, solitários ou infelizes é sair, ir a um local em que possam ficar a sós, com o céu, a natureza e Deus. Só então você pode sentir que tudo é como deveria ser, e que Deus deseja a felicidade das pessoas em meio á beleza e á simplicidade da natureza.
Enquanto isso existir- e deve existir para sempre-, sei que haverá consolo para toda tristeza, em qualquer circunstância. Acredito firmemente que a natureza pode trazer conforto a todos que sofrem.
Há, quem sabe, talvez não demore muito antes que eu possa compartilhar esse sentimento de felicidade avassaladora com alguém que sinta o mesmo que eu. ”
Anne Frank

***

"Não consigo me imaginar como todas as mulheres que fazem o seu trabalho e depois são esquecidas. Preciso ter alguma coisa além de um marido e de filhos aos quais me dedicar! Não quero que minha vida tenha passado em vão, como a da maioria das pessoas. Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo aquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse dom, de escrever, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe dentro de mim. 
Quando escrevo, consigo afastar todas as preocupações. Minha tristeza desaparece, meu ânimo renasce! Mas- e está é uma grande questão - será que conseguirei escrever alguma coisa importante, será que me tornarei jornalista ou escritora?
Espero, ha, espero muito, porque escrever me permite registar tudo, todos os meus pensamentos, meus ideais e minhas fantasias. "

Anne Frank

***


O melhor filme Brasileiro dos últimos tempos. Com Wagner Moura....tensão e risos ao mesmo tempo, historias que se cruzam pelo caminho, pessoas comuns na beira da estrada, em vilarejos, barracos, casa-barco, lugares algum. A história que anuncia é de uma crise familiar, mas o foco são as costuras, aqueles com quem no momento da procura ele encontra sem querer encontrar...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O que é arte...?...



 
   A expressão poética do homem sempre existiu instintivamente, diferente de uma máquina cuja ação destina-se em sentido a concretudes, definidas e específicas, o homem têm atitudes espontâneas nem sempre ligadas as suas objetividades, como uma espécie de pausa, um suspiro, ele cria, desloca-se para o encontro com a matéria visual a fim de satisfazer-se imaterial e esteticamente, e de alguma forma alcançar seu pleno gozo, seu refúgio para um mundo que por mais faz de conta e ilusionista que soe, é real e é o que lhe da prazer.
   Em meio aos seus serviços utilitários do dia a dia, o homem sempre registrou seus sentimentos em relação à vida e em relação ao momento histórico em que viveu, assim como andava, falava e se alimentava, naturalmente e espontaneamente esse mesmo homem desenhava e pintava, e isso compunha o seu universo imagético existencial, entretanto, tempos depois dessa atividade genuína e despretensiosa, rotulou-se a essas expressões o nome de arte. Hoje, na contemporaneidade, costuma-se dar o nome de artes o que conscientemente o homem cria no intuito de fazer e rotular a arte, o que a intelligentsia convém chamar de arte e colocar em si o seu código de barras, indispensável para a inserção no mercadão elitizado dos que conceituam o “objeto- obra- produto”, agregando valores ou descartando expressões.
    Nas pinturas pré históricas podemos ver simplesmente o homem retratando aquilo que estava ao seu redor, o ambiente natural, os animais, os outros homens e suas rotineiras atividades, e essa expressão está diretamente ligada ao conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, aos costumes, a religiosidade, aos rituais, enfim, a cultura do homem, que tem a ver com “quem é esse homem”, onde ele vive, o que ele sente, o homem juntos dos outros homem, a visão desse homem, as suas raízes, seu imaginário passado presente e futuro, que por fim, elimina a possibilidade de responder aqui e agora o que é arte, necessitando esta indagação do saber cultural, que necessita do saber sobre este específico homem ao qual faz parte de determinada e específica cultura.
     Poderia então dizer que arte é a expressão poética do homem singular em uma sociedade plural e está relacionada diretamente ao seu tempo, seu lugar, sua história política, econômica e societal ? Ou ainda estaria rotulando o homem em sua infinitude e esquecendo de alguma particularidade própria que caberia a este chamar de arte?
    O caráter valoroso da obra de arte, ainda que mutável ao tempo, ao encontro do homem com a sua coletividade, com os acontecimentos de ordem política e histórico-social, ela é imprescindível de pessoalidade, pois o gosto pelo belo, essa busca tão arbitrária e natural do homem pela estética, depende do universo poético de cada um. O valor da arte pode estar ligado também simplesmente ao  valores pictóricos da imagem, cor, linha, forma, volume e etc, mas ainda sim é um valor, por uma agradável sensação do belo, ou até mesmo por uma expressão estética ligada diretamente ao pictórico que não tem como fim  alcançar uma beleza visual a quem lhe da a vida, as vezes o desejo pode ser simplesmente alcançar um grotesco, o contrário daquilo que lhe soe como belo.
     O Homem busca cotidianamente desde os tempos primórdios, um encontro com uma beleza de ordem pessoal através de simples e sutis relações com os objetos utilitários, como exemplo desta relação estão os vasos gregos, o homem pintava, decorando e ilustrando-o com cenas da mitologia, e este mesmo homem busca até hoje encontro com belezas complexas através das atividades mais corriqueiras , porém, que compõe uma significação real para ele.      Ao se vestir o homem imprimi um pouco a mais da sua essência e da sua personalidade, dos seus gostos, ele não escolhe aleatoriamente uma calça justa ou larga, um vestido comprido ou curto, com cores mais vibrantes ou discretas, ele escolhe por um traço que lhe condiz, e ainda que o fizer de maneira aleatória, este corresponde-lhe sim um aspecto pessoal. Ao pensar e comprar a mobília de uma casa, o homem continua neste desejo pelo belo, por uma satisfação estética visual, e ao organizar esta mesma mobília na casa, continua este homem, na sintonia sublime de prazer.
    Poderíamos diferenciar como artistas ou não aquele que pinta um quadro daquele que confeita um bolo, daquele que organiza um prato de salada, pensando na simetria ou assimetria dos pepinos e tomates?
    Como rotular por assim dizer, a arte, se a séculos atrás o que era apenas uma vasilha de alimentos na mão do homem hoje encontra-se em renomeados museus consagrados como arte? porque não simplesmente conviver com a ideia de que vivemos e nos expressamos poética e sensivelmente por humanidade, e assim, arbitrariamente, involuntariamente somos produtores e reprodutores de uma arte viva, de uma busca incansável pelo belo, logo, Monet ou a dona de casa que enfeita e poda seu jardim são dois amantes e produtores de belezas e expressões.
    E ainda sim, o que é arte?

                                                                                                                                           Jordana Seixas


domingo, 20 de maio de 2012


    A história do livro Pedra de Paciência, de Atiq Rahimi, se passa em um quarto vazio e pequeno, com algumas muitas palavras que explodem de dentro de uma mulher e quicam por dentro de um quarto sufocante, de um lado para outro, do teto para as paredes, das paredes para o chão, da mesma forma que os pensamentos antes de se tornarem palavras, se sacudiam por dentro dela em absoluta e total repressão ha anos. fim.
     Li o livro sem saber do que se tratava, sem ler nem mesmo alguma critica ou sinopse como de costume, sem sequer alguma indicação de um amigo, e de rrepente a história, apesar de um único personagem, e praticamente o mesmo cenário em toda a trama, vai ganhando vida e você se torna o confidente da personagem mulher, pois a princípio é o único a ouvir seus lamentos e segredos mais profundos. 


Trata-se de um livro descritivo, em que é possível realmente pensar nas palavras balbuciadas pela mulher em um quarto com cortinas estampadas com motivos representando pássaros migratórios fixados no impulso do vôo sobre um céu amarelo e azul, é possível imaginar as palavras opressivas daquela mulher dançando por cada mínimo detalhe do quarto descrito no livro. 

   Além do que não é dito no livro, ele te aproxima tão intimamente da história e da mulher ao ponto de exigir da tua imaginação que complete com afeição e sensorialidade aquilo que não foi dito, imaginei um chão de taco, imaginei escuridão entre as luzes que entram pela janela, senti um cômodo frio e impessoal,entre outras coisas, senti e imaginei como se estivesse lá dentro do quarto, ouvindo a mulher, como seu fiel confessionário.

     Pedra-de-paciência é o nome de uma pedra mágica que acolhe os lamentos de quem se confidencia a ela. O dia que a pedra recebe tristezas demais, explode. Ler o livro é se tornar a pedra de paciência de uma mulher oprimida de seus desejos e de quem é, é explodir juntamente com ela e seu desfecho, e é continuar em total explosão mesmo depois de terminada a leitura, pensando naquele pequeno quarto retangular, como se já estivéssemos estado dentro dele um dia, como se ele tivesse um cheiro e nos transmitisse um dejavu de sentimentos, de algum dia, de algum tempo e de algum lugar.



                                      Jordana Seixas


                         Os Pássaros



   Embora tratando-se de Hitchcok, comecei a ver os pássaros, no início de uma  manha tranquila e ensolarada, e pela sensação precipitada que a introdução da película me causou, achei que fosse o filme perfeito para iniciar o dia, uma cidade pacata a beira de um rio chamada bodega Bay. Tippi Hedren com sua beleza singela carrega na gaiola dois inofensivos pássaros. Mas em pouco tempo o mistério da trama e o drama dos personagens  conduzem ao suspense central da obra, a oposição da fragilidade que os pássaros representam em sua leveza liberdade.


    Hitchcok constrói um drama psicológico nos personagens intenso e misterioso, e costura na história de amor central, em meio ao suspense intrigante dos pássaros que começam a atacar e matar as pessoas.

  Embora o filme já explore as novas tecnologias com o uso de efeitos especiais inovadores da época para criar as temíveis criaturas voadoras, ele alcança o seu auge de suspense exatamente no mistério jogado no ar no início do longa e no mesmo mistério que se prolonga na trama e fica no ar em aberto, nos mantendo mesmo após o seu término, em êxtase especulando suas entrelinhas e o seu após.


    A força do filme está nos contrastes, na oposição que Hitchcok constrói para extrair o suspense e o horror do lugar nostálgico e indefeso, da inocência do conto de amor e da pureza lírica de dois periquitos namoradeiros.





                Jordana Seixas

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um dia



No meio do caminho haviam além de pedras, anjos, anjos em forma de canções que nos inspiram com uma lembrança, um cheiro, um docê papel amarelado, uma flor murcha por entre alguns livros, que perde sua beleza e vitalidade juntamente com a vida, mas ainda sim não consegue perder sua poesia, mórbido e depreciativo, mas poético, tão quanto melancólico, tão quanto fúnebre, tão quanto poético...
No meio do caminho existem anjos, em forma de luzes em uma manha ensolarada, esses pequenos anjos são quase imperceptíveis, porém não precisam da noite para reluzirem apontando cada ponto que reluz dentro de nós, e que a cada dia se ofusca mais e cada vez mais.
No meio do caminho também haviam pedras, muitas pedras, e esses anjos materializados em pedras, nos fazem tropeçar quando caminhamos tão ligeiro ao ponto de desperceber os nossos próprios passos, ao ponto de desperceber outras pedras no meio do caminho. É preciso tranquilidade no meio do caminho, caminhando bem lentamente, com suavidade e delicadeza, é possível chegar mais rápido ao destino do que quando se corre ignorando o caminho e os anjos abrigados entre eles.
No meio do caminho é possível assistir um filme chamado “One Day”, e derrepentemente no fim do dia, mesmo que por apenas aquele um dia, é possível voltar a se esperançar no amor de infância, é possível voltar a acreditar nas renuncias e sacrifícios, na incondicionalidade e imaterialidade de um grande amor, é possível sentir vontade desesperadamente de entrar nas telas do cinema e viver a possibilidade daquele possível amor surreal na sua realidade mais profunda, mesmo que por apenas um dia, mesmo que por apenas One Day.
Jordana Seixas


domingo, 28 de fevereiro de 2010


            Pensamentos sobre a voz falada do ator

A voz do ator é como se fosse uma peça “qualquer” de uma máquina, e para essa máquina funcionar, esta peça, por mais insignificante visualmente que possa ser, faz parte do organismo interno da máquina, ela é de existência essencial para o funcionamento desta.
A voz do ator compõe a sua estrutura orgânica, é a extensão de seu corpo, extensão de sua expressão íntima interna, é um instrumento que compõe o seu trabalho de encenação.
O corpo do ator precisa falar e ter forma, precisa ter organização, estrutura e feição externa em cada particularidade existida, seu olhar, o deslocamento do seu corpo, o direcionamento de suas mãos. E assim como o corpo, a sua voz, que nada mais é do que seu prolongamento ,( tom, intensidade, timbre, pausas, nuances e etc.,) e todas as possibilidades técnicas vocais são importante para que o ator alcance a platéia com verdade.
Quando vamos realizar uma refeição, não jogamos os alimentos misturados no prato de qualquer jeito e engolimos, sentimos a vontade de degustá-lo se a estética do prato for atraente, dessa forma dispomos os alimentos no prato de maneira organizada, feijão para um lado, arroz para o outro, como se estivéssemos pintando um quadro, ou escolhendo um brinco e uma bolsa para combinar com o vestido, e por ai vai.
Da mesma forma o ator para ser convincente em seu jogo de interpretação tem que saber utilizar a técnica vocal para alcançar a emoção de seu personagem, mergulhando em sua memória corporal, ou mais especificamente, memória vocal, e da mesma forma como organiza um prato de comida, tornando-o belo e atraente, precisa desenhar sua voz, tornando tão viva e natural quanto sua voz cotidiana e real, sua voz da vida, diferente de muitas canastrices em conseqüência de uma voz forçada e artificial.

Jordana Seixas




"Se não usarmos nosso corpo, nossa voz, um modo de falar, de andar, de nos movermos, se não acharmos uma forma de caracterização que corresponda à imagem, nós, provavelmente, não poderemos transmitir a outros o seu espírito interior, vivo." Stanislavski, Constantin (2003)pg27.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mais uma pérola de Woody Allen, uma película sutil entre o drama, a fantasia e a comédia, vale a pena. É o retorno de Man Ray, Salvador Da Li, Rodin, Camille Claudel, Pablo Picasso e Georges Braque em um longa metragem imperdível.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009




             Simplesmente Eu

  Adaptação teatral feita sobre alguns contos literários da escritora Clarice Lispector. Trata-se de um monólogo, Direção, adaptação e interpretação de Beth Goulart, supervisão de Amir Haddad.
  A peça mescla os personagens retirados dos contos da autora com declarações autobiográficas, em que atriz buscou trazer a própria Clarice Lispector para o palco, compondo uma obra que necessitou de uma árdua busca no submundo interno da escritora, em seus complexos e incomplexos. A conseqüência dessa penetração no eu mais intimo de Clarice, resulta em uma belíssima atuação física da atriz. Segundo Beth Goulart, por ser tratar Clarice de uma escritora tão pessoal, ao se aproximar da obra da escritora, ela se aproximou automaticamente da alma desta, e podemos perceber isso nos mínimos detalhes, que nitidamente tiveram um denso trabalho de observação, não no estereótipo Clarice Lispector, não na casca Clarice Lispector, mas na sua essência, que emana de forma poética e sensível em simplesmente eu, o que nada mais é do que “simplesmente Clarice”.
   Enxergamos Clarice na maneira da atriz segurar o cigarro, no seu olhar profundo e desconfiado, inquieto, e um tanto até ameaçador e ousado. Seu ar triste, solitário, depressivo, nostálgico. Seu corpo pulsante, querendo falar, querendo escrever suas inquietações, a vibração da sua voz, a sua tonalidade e até mesmo a língua presa, que lhe dava um sotaque russo.
  Podemos ver um trabalho de memória corporal, em que as ações, segundo teorias de Stanislawski, sucumbem do interior do corpo envolvendo as percepções do movimento, um trabalho estreitamente técnico, muito mais do que emotivo. Ao ver depoimentos e entrevistas de Clarice Lispector, podemos ver um trabalho de observação minuciosa em simplesmente eu. Não vemos os Sentimentos de Beth Goulart, a memória emotiva de Beth Goulart, mas vemos a alma de Clarice sendo composta no palco através de singelos e minuciosos gestuais nada vazios, gestuais que falam, que gritam e criam forma no palco.
Vemos Beth em cena como se estivesse sendo desenhada, cada movimento de seu corpo é belo de ser ver, é claro, é intencional, preciso e vivo. A peça demonstra claramente a grande diferença entre um gesto e uma ação física, pois nas mínimas ações, nos pequenos deslocamentos da atriz e direcionamento do seu corpo, são traduzidos os sentimentos, a individualidade poética e o universo Clarice Lispector.
                          


Jordana Seixas 



“Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesmo, quase esqueço que sou humana”. Clarice Lispector

sexta-feira, 1 de maio de 2009


Escritos sobre o livro:
A Metamorfose – Franz Kafka

A metamorfose acontece não somente em Gregor, um caixeiro-viajante, ao se transformar em um inseto monstruoso, ela desabrocha em todos os seus familiares que passam a conviver com aquele martírio, começando assim a metamorfosear seus sentimentos, suas opiniões e a maneira habitual, metódica e rotineira como vivem.
Gregor sustentava sua casa e sua família, mas a partir do dia que acordou no corpo de um inseto ficou impossibilitado de dar continuidade ao seu trabalho. Com esta catarse, seu pai, mãe e irmã precisam arranjar um emprego, e mudam assim o curso e o sentido de suas vidas.
A metamorfose é considerada para alguns como realismo fantástico (estudos de mistérios que envolvem a nossa realidade fugindo ao convencional), ou para outros, surrealismo (atividades do subconsciente sem o uso da razão). Embora seja um absurdo a transformação do homem em inseto, a transformação maior no romance de Kafka é a revelação da imundice humana, do ser - humano engolido por uma sociedade capitalista  e quem tem sua casa o reflexo desta. Gregor acordou barata, dormiu barata, e já vivia há tempos barata, o que na verdade se transformou foi o seu corpo físico, porque a pessoa Gregor, nasceu sujeito barata.
Quando a imã de Gregor sugere retirar os moveis do quarto para que ele possa ter mais espaços enquanto inseto, não necessitando mais dos mesmos objetos que necessitava enquanto humano, ocorre então o descentramento e a desreferencialização daquele sujeito, resultando assim, em uma crise profunda de sua identidade. Um quarto vazio tornou-se em seu universo, um deserto, tão anêmico e apático, quanto o deserto descrito por Gilles Lipovetsky, em seu livro, A era o vazio.
Se somos capazes de sentir repulsa por um filho, por alguém que dizemos eu te amo, o que somos e não somos capazes de fazer ou sentir, por aqueles que nos são indiferentes?
Fim de gregor, um copo de vidro caiu, quebrou e sujou o chão.

                                          Jordana Seixas 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


ACERVO


Sobre Máscaras

   Qualquer coisa pode me inspirar a qualquer momento, encontro algo jogado pelo chão e logo posso enxergar vida neste objeto, logo posso velo como uma parte orgânica das minhas máscaras, porém não somente aquilo que é belo ditado pela mídia, pelo modismo ou pela nossa tradicionalidade, mas também aquilo que é forte mesmo que feio, chocante mesmo que triste.
   A beleza pra mim não está no belo, mas naquilo que me faz pensar, naquilo que com sua força e sua grandeza fazem-me criar, ás vezes o belo, mas nem sempre o belo.
  As vezes gosto de misturar estilos, um traço de cubismo com um que de abstracionismo, porém considero minhas máscaras contemporâneas, e mais do que isso, brasileiras e especificamente periféricas cariocas.
  Gosto de trabalhar com tudo, aproveitar tudo, qualquer coisa, minha arte é urbana, está nas ruas, perto da gente, e é aonde encontro mesmo o que procuro, material bruto, que comunica, que tem força visual. O único trabalho que eu tenho é o de catar, experimentar de todas as formas e depois juntar tudo. ( Na verdade isso é um grande trabalho, ás vezes caótico e atormentador, mas por vezes muito prazeroso, a arte é minha vida)
  Elementos urbanos, achados, lixos, sucatas, objetos do cotidiano, tudo junto na composição, tudo pode somar, como diz a dinamarquesa Anna Marie Holm, que é artista, membro da sociedade Dinamarquesa de autores e professora de artes;
“-QUALQUER COISA, QUALQUER COISA, QUALQUER COISA.”
   Acredito que os seres-humanos usam máscaras a todo momento, porque isso é de sua natureza, ninguém conhece todas as máscaras do outro, ninguém conhece nem mesmo todas as suas próprias máscaras...
  Um dia desses sai para trabalhar e quando cheguei, fiquei por algum tempo olhando a infiltração da parede no meu trabalho, percebi que aquela infiltração ali na parede trazia um certo incomodo para mim e para as outras pessoas, mas percebi também alguma coisa maior do que isso. Percebi que aquela infiltração fora daquela parede poderia se tornar em uma grande obra de arte, e então decidi fotografá-la de vários ângulos, pensei até que poderia estar enlouquecendo, mas a partir daquele momento compreendi que eu estava “começando” a compreender que aquilo tudo era mais forte do que eu, e que definitivamente a arte estaria me acompanhando todos os dias da minha vida, por toda a minha vida.

                 Jordana Seixas

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

“Belo da arte: arbitrário convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora conscientes (Rafael das Madonas, Rodin de Balzac.Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Braz Cubas) ora inconscientes ( a grande maioria) foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa”.

                             Mario de Andrade

Máscara da minha oficina de Máscaras do Centro de Arte da UFRRJ


Máscaras da minha Oficina realizada no Centro de Arte da UFRRJ
"A arte é devir, bloco de sensações lambido por oceanos, tocado por brisas, sacudido por ventanias, atravessado pelo burburinho das cidades. Esse bloco se compõe com sensações como a do amarelo nos girassóis, o clamor da multidão, um sabor."

Deleuze

Máscara produzida na minha oficina de Máscaras no Centro de Arte da UFFRJ


Máscara produzida na minha oficina de Máscaras no Centro de Arte da UFFRJ

Máscara produzida na minha oficina de Máscaras no Centro de Arte da UFFRJ

Máscara produzida na minha oficina de Máscaras no Centro de Arte da UFFRJ

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

ELC


Máscara
Criação feita para ELC - Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu

ELC


Máscara
Criaão feita para ELC - Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu

ELC


Máscara
Criação feita para ELC - Escola Livre de Cinema de Nova iguaçu

ELC

Máscara
Criação feita para ELC - Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu

ELC


Máscara
Criação feita para ELC - Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu