sexta-feira, 1 de maio de 2009


Escritos sobre o livro:
A Metamorfose – Franz Kafka

A metamorfose acontece não somente em Gregor, um caixeiro-viajante, ao se transformar em um inseto monstruoso, ela desabrocha em todos os seus familiares que passam a conviver com aquele martírio, começando assim a metamorfosear seus sentimentos, suas opiniões e a maneira habitual, metódica e rotineira como vivem.
Gregor sustentava sua casa e sua família, mas a partir do dia que acordou no corpo de um inseto ficou impossibilitado de dar continuidade ao seu trabalho. Com esta catarse, seu pai, mãe e irmã precisam arranjar um emprego, e mudam assim o curso e o sentido de suas vidas.
A metamorfose é considerada para alguns como realismo fantástico (estudos de mistérios que envolvem a nossa realidade fugindo ao convencional), ou para outros, surrealismo (atividades do subconsciente sem o uso da razão). Embora seja um absurdo a transformação do homem em inseto, a transformação maior no romance de Kafka é a revelação da imundice humana, do ser - humano engolido por uma sociedade capitalista  e quem tem sua casa o reflexo desta. Gregor acordou barata, dormiu barata, e já vivia há tempos barata, o que na verdade se transformou foi o seu corpo físico, porque a pessoa Gregor, nasceu sujeito barata.
Quando a imã de Gregor sugere retirar os moveis do quarto para que ele possa ter mais espaços enquanto inseto, não necessitando mais dos mesmos objetos que necessitava enquanto humano, ocorre então o descentramento e a desreferencialização daquele sujeito, resultando assim, em uma crise profunda de sua identidade. Um quarto vazio tornou-se em seu universo, um deserto, tão anêmico e apático, quanto o deserto descrito por Gilles Lipovetsky, em seu livro, A era o vazio.
Se somos capazes de sentir repulsa por um filho, por alguém que dizemos eu te amo, o que somos e não somos capazes de fazer ou sentir, por aqueles que nos são indiferentes?
Fim de gregor, um copo de vidro caiu, quebrou e sujou o chão.

                                          Jordana Seixas