quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O que é arte...?...



 
   A expressão poética do homem sempre existiu instintivamente, diferente de uma máquina cuja ação destina-se em sentido a concretudes, definidas e específicas, o homem têm atitudes espontâneas nem sempre ligadas as suas objetividades, como uma espécie de pausa, um suspiro, ele cria, desloca-se para o encontro com a matéria visual a fim de satisfazer-se imaterial e esteticamente, e de alguma forma alcançar seu pleno gozo, seu refúgio para um mundo que por mais faz de conta e ilusionista que soe, é real e é o que lhe da prazer.
   Em meio aos seus serviços utilitários do dia a dia, o homem sempre registrou seus sentimentos em relação à vida e em relação ao momento histórico em que viveu, assim como andava, falava e se alimentava, naturalmente e espontaneamente esse mesmo homem desenhava e pintava, e isso compunha o seu universo imagético existencial, entretanto, tempos depois dessa atividade genuína e despretensiosa, rotulou-se a essas expressões o nome de arte. Hoje, na contemporaneidade, costuma-se dar o nome de artes o que conscientemente o homem cria no intuito de fazer e rotular a arte, o que a intelligentsia convém chamar de arte e colocar em si o seu código de barras, indispensável para a inserção no mercadão elitizado dos que conceituam o “objeto- obra- produto”, agregando valores ou descartando expressões.
    Nas pinturas pré históricas podemos ver simplesmente o homem retratando aquilo que estava ao seu redor, o ambiente natural, os animais, os outros homens e suas rotineiras atividades, e essa expressão está diretamente ligada ao conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, aos costumes, a religiosidade, aos rituais, enfim, a cultura do homem, que tem a ver com “quem é esse homem”, onde ele vive, o que ele sente, o homem juntos dos outros homem, a visão desse homem, as suas raízes, seu imaginário passado presente e futuro, que por fim, elimina a possibilidade de responder aqui e agora o que é arte, necessitando esta indagação do saber cultural, que necessita do saber sobre este específico homem ao qual faz parte de determinada e específica cultura.
     Poderia então dizer que arte é a expressão poética do homem singular em uma sociedade plural e está relacionada diretamente ao seu tempo, seu lugar, sua história política, econômica e societal ? Ou ainda estaria rotulando o homem em sua infinitude e esquecendo de alguma particularidade própria que caberia a este chamar de arte?
    O caráter valoroso da obra de arte, ainda que mutável ao tempo, ao encontro do homem com a sua coletividade, com os acontecimentos de ordem política e histórico-social, ela é imprescindível de pessoalidade, pois o gosto pelo belo, essa busca tão arbitrária e natural do homem pela estética, depende do universo poético de cada um. O valor da arte pode estar ligado também simplesmente ao  valores pictóricos da imagem, cor, linha, forma, volume e etc, mas ainda sim é um valor, por uma agradável sensação do belo, ou até mesmo por uma expressão estética ligada diretamente ao pictórico que não tem como fim  alcançar uma beleza visual a quem lhe da a vida, as vezes o desejo pode ser simplesmente alcançar um grotesco, o contrário daquilo que lhe soe como belo.
     O Homem busca cotidianamente desde os tempos primórdios, um encontro com uma beleza de ordem pessoal através de simples e sutis relações com os objetos utilitários, como exemplo desta relação estão os vasos gregos, o homem pintava, decorando e ilustrando-o com cenas da mitologia, e este mesmo homem busca até hoje encontro com belezas complexas através das atividades mais corriqueiras , porém, que compõe uma significação real para ele.      Ao se vestir o homem imprimi um pouco a mais da sua essência e da sua personalidade, dos seus gostos, ele não escolhe aleatoriamente uma calça justa ou larga, um vestido comprido ou curto, com cores mais vibrantes ou discretas, ele escolhe por um traço que lhe condiz, e ainda que o fizer de maneira aleatória, este corresponde-lhe sim um aspecto pessoal. Ao pensar e comprar a mobília de uma casa, o homem continua neste desejo pelo belo, por uma satisfação estética visual, e ao organizar esta mesma mobília na casa, continua este homem, na sintonia sublime de prazer.
    Poderíamos diferenciar como artistas ou não aquele que pinta um quadro daquele que confeita um bolo, daquele que organiza um prato de salada, pensando na simetria ou assimetria dos pepinos e tomates?
    Como rotular por assim dizer, a arte, se a séculos atrás o que era apenas uma vasilha de alimentos na mão do homem hoje encontra-se em renomeados museus consagrados como arte? porque não simplesmente conviver com a ideia de que vivemos e nos expressamos poética e sensivelmente por humanidade, e assim, arbitrariamente, involuntariamente somos produtores e reprodutores de uma arte viva, de uma busca incansável pelo belo, logo, Monet ou a dona de casa que enfeita e poda seu jardim são dois amantes e produtores de belezas e expressões.
    E ainda sim, o que é arte?

                                                                                                                                           Jordana Seixas


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