A expressão poética do homem sempre existiu
instintivamente, diferente de uma máquina cuja ação destina-se em sentido a
concretudes, definidas e específicas, o homem têm atitudes espontâneas nem
sempre ligadas as suas objetividades, como uma espécie de pausa, um suspiro,
ele cria, desloca-se para o encontro com a matéria visual a fim de
satisfazer-se imaterial e esteticamente, e de alguma forma alcançar seu pleno
gozo, seu refúgio para um mundo que por mais faz de conta e ilusionista que
soe, é real e é o que lhe da prazer.
Em meio aos seus serviços utilitários do dia
a dia, o homem sempre registrou seus sentimentos em relação à vida e em relação
ao momento histórico em que viveu, assim como andava, falava e se alimentava,
naturalmente e espontaneamente esse mesmo homem desenhava e pintava, e isso
compunha o seu universo imagético existencial, entretanto, tempos depois dessa
atividade genuína e despretensiosa, rotulou-se a essas expressões o nome de
arte. Hoje, na contemporaneidade, costuma-se dar o nome de artes o que
conscientemente o homem cria no intuito de fazer e rotular a arte, o que a
intelligentsia convém chamar de arte e colocar em si o seu código de barras,
indispensável para a inserção no mercadão elitizado dos que conceituam o
“objeto- obra- produto”, agregando valores ou descartando expressões.
Nas pinturas pré históricas podemos ver
simplesmente o homem retratando aquilo que estava ao seu redor, o ambiente
natural, os animais, os outros homens e suas rotineiras atividades, e essa
expressão está diretamente ligada ao conhecimento, as crenças, a arte, a moral,
a lei, aos costumes, a religiosidade, aos rituais, enfim, a cultura do homem,
que tem a ver com “quem é esse homem”,
onde ele vive, o que ele sente, o homem juntos dos outros homem, a visão desse
homem, as suas raízes, seu imaginário passado presente e futuro, que por fim,
elimina a possibilidade de responder aqui e agora o que é arte, necessitando
esta indagação do saber cultural, que necessita do saber sobre este específico homem
ao qual faz parte de determinada e específica cultura.
Poderia então dizer que arte é a expressão
poética do homem singular em uma sociedade plural e está relacionada
diretamente ao seu tempo, seu lugar, sua história política, econômica e
societal ? Ou ainda estaria rotulando o homem em sua infinitude e esquecendo de
alguma particularidade própria que caberia a este chamar de arte?
O caráter valoroso da obra de arte, ainda
que mutável ao tempo, ao encontro do homem com a sua coletividade, com os
acontecimentos de ordem política e histórico-social, ela é imprescindível de
pessoalidade, pois o gosto pelo belo, essa busca tão arbitrária e natural do
homem pela estética, depende do universo poético de cada um. O valor da arte
pode estar ligado também simplesmente ao
valores pictóricos da imagem, cor, linha, forma, volume e etc, mas ainda
sim é um valor, por uma agradável sensação do belo, ou até mesmo por uma
expressão estética ligada diretamente ao pictórico que não tem como fim alcançar uma beleza visual a quem lhe da a vida,
as vezes o desejo pode ser simplesmente alcançar um grotesco, o contrário
daquilo que lhe soe como belo.
O Homem busca cotidianamente desde os
tempos primórdios, um encontro com uma beleza de ordem pessoal através de simples
e sutis relações com os objetos utilitários, como exemplo desta relação estão os
vasos gregos, o homem pintava, decorando e ilustrando-o com cenas da mitologia,
e este mesmo homem busca até hoje encontro com belezas complexas através das atividades
mais corriqueiras , porém, que compõe uma significação real para ele. Ao se vestir o homem imprimi um pouco a
mais da sua essência e da sua personalidade, dos seus gostos, ele não escolhe
aleatoriamente uma calça justa ou larga, um vestido comprido ou curto, com
cores mais vibrantes ou discretas, ele escolhe por um traço que lhe condiz, e
ainda que o fizer de maneira aleatória, este corresponde-lhe sim um aspecto
pessoal. Ao pensar e comprar a mobília de uma casa, o homem continua neste desejo
pelo belo, por uma satisfação estética visual, e ao organizar esta mesma
mobília na casa, continua este homem, na sintonia sublime de prazer.
Poderíamos diferenciar como artistas ou não
aquele que pinta um quadro daquele que confeita um bolo, daquele que organiza
um prato de salada, pensando na simetria ou assimetria dos pepinos e tomates?
Como rotular por assim dizer, a arte, se a
séculos atrás o que era apenas uma vasilha de alimentos na mão do homem hoje
encontra-se em renomeados museus consagrados como arte? porque não simplesmente
conviver com a ideia de que vivemos e nos expressamos poética e sensivelmente
por humanidade, e assim, arbitrariamente, involuntariamente somos produtores e
reprodutores de uma arte viva, de uma busca incansável pelo belo, logo, Monet
ou a dona de casa que enfeita e poda seu jardim são dois amantes e produtores
de belezas e expressões.
E ainda sim, o que é arte?
Jordana
Seixas
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